Mãos à Escrita
Jornal do Agrupamento Professor João de Meira
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Os animais nossos amigos
Por Júlia Amaro (Professora), em 2013/03/01841 leram | 0 comentários | 259 gostam
Conto premiado pelo II Concurso Literário Coração Azul
O canil era como um habitat para eles, o problema era que o canil era um mau habitat, viviam em condições lastimáveis, estavam ali sozinhos, doentes, com frio, com fome e era ali onde imaginavam passar o resto dos seus dias.
Eram alimentados apenas quatro vezes por semana. A água era lhes dada, por vezes, com bactérias, era um horror!
No meio de toda esta tristeza, havia um, e um só, chamava-se Riso, que tinha a capacidade de os fazer continuar. Diariamente reconfortava-os, dizendo:
- Bom dia!
- Bom dia! – Respondiam sem qualquer tipo de entusiasmo.
Os dias de distribuição de comida realizavam-se à segunda-feira, à quarta-feira, à sexta-feira e aos domingos, por isso Riso recomendava:
- Tenham calma, hoje é dia de sermos servidos, e, como hoje é domingo, aproveitem para comer bastante, pois só amanha serão servidos novamente.
E assim eram passados os dias, sempre da mesma forma, até que, como os seres humanos, eles iam envelhecendo.
Certo dia, Riso sentiu-se cansado daquela vida, do facto de estar ali fechado todo dia, de não poder ir à rua como ia antes de ter sido retirado da sua antiga dona. Depois de muito pensar, encontrou uma solução. Planeou com os colegas e assim o plano ficou pronto.
No dia seguinte, bem de manhãzinha, quando Carlos, o distribuidor de comida, entrou, qual não foi o seu espanto: todos os cães aparentavam estar mortos, o que não correspondia à verdade.
Carlos, desconhecendo o plano, observou e abriu uma das celas, reagindo conforme o plano de Riso. Carlos sentou-se e, entre lagrimas e soluços, disse:
- E agora que vou dizer ao patrão? Que todos os cães estão mortos? Estou desgraçado, é o meu fim…
Enquanto Carlos se lamentava, Riso aproveitou o momento, retirou-lhe as chaves do bolso e pô-las debaixo da sua barriga. Carlos, sem pensar em mais nada, retirou-se para se acalmar. Foi então que Riso abriu a sua cela e, de seguida, abriu a de todos os seus companheiros.
O plano estava praticamente feito! O problema na cabeça de Riso era para onde é que iria levar todos os seus companheiros, até que se lembrou de uma pessoa que de certeza saberia para onde os levar. Meia hora mais tarde, todos os cães saíram, com todas as forças que tinham e que não tinham, de forma a deixar aquele lugar tão horrível, do qual nunca mais se queriam lembrar.
Correram pela estrada fora! Pelo caminho, os habitantes ficavam de boca aberta, os turistas tiravam fotos, os clientes das lojas deixavam o que tinham na mão cair ao chão, o arrumador de montras partiu a prateleira, o homem do lixo deitou o balde para o chão, no salão de chá o empregado entornou uma chávena numa cliente, o mecânico furou o pneu, o trânsito parou!... Por momentos, a cidade parou para ver aquela quantidade de animais a correr pela rua fora, o que nunca tinha acontecido antes.
A casa em que Riso tinha pensado era a de Elisa, a sua antiga dona. Riso sabia exactamente o caminho, pois já o tinha feito imensas vezes.
Riso lembrava-se da porta por onde passava antigamente. Era pequena e de forma quadrada, os adultos chamavam-lhe “buddy pet door”. Quando entraram, Elisa, que já devia ter uns 18 anos, parecia não o reconhecer, mas, assim que ele fixou os olhos nela, ela reconheceu-o. Naquele momento, pela cabeça de Riso passaram uns mil momentos do passado com Elisa, e na cabeça de Elisa acontecia o mesmo, o que fez com que se emocionassem. Entre lágrimas, Riso abanava a cauda de uma forma que já não abanava há muito tempo.
O problema foi quando Elisa reparou que, seguindo Riso, vinham mais uns… 100 cães. Todos passaram pela mesma porta. Quando reparou nas coleiras que eles tinham, percebeu que nelas estava escrito “canil municipal” e, vendo as condições em que alguns se encontravam, percebeu o porquê da fuga, o que a levou a meditar numa solução.
Com a ajuda das suas amigas Natasha, Paula, Cecília, Estefânia e Lúcia, Elisa teve uma ideia, só faltava pô-la em prática. Enquanto isso, os cães estavam numa cave muito confortável.
Foi a semana mais atarefada das vidas delas, numa só semana conseguiram que toda a cidade arranjasse fundos para poder criar um espaço onde todos os cães pudessem estar confortáveis.
Naquela semana, os trolhas criaram o espaço, uma equipa de decoradores decorou o espaço, o banco responsabilizou-se pelas contas de água e luz, o presidente da câmara municipal aprovou todo o projecto e disponibilizou-se para ajudar em tudo o que fosse possível. Também o stand de automóveis doou duas carrinhas para poderem recolher mais animais abandonados, e assim estava tudo pronto, só faltava uma coisa.
As amigas juntaram-se numa tarde para verificar se estava tudo em ordem. Lúcia lembrou-se que o centro ainda não tinha nome e sugeriu o nome de Pata Doce, nome com o qual toda a gente concordou.
Depois de muitos telefonemas, estava tudo em ordem.
Chegou o grande dia, o dia em que a vida daqueles cães iria mudar, o dia em que eles sabiam que mais tarde ou mais cedo iriam ser adoptados por alguém que gostasse deles, o dia em que para eles a vida ia passar a fazer sentido. Quando entraram no espaço, Natasha, Paula, Cecília, Estefânia, Lúcia e Elisa sentiram que tinham feito uma boa acção e perceberam que o seu trabalho tinha valido a pena. Quando os cães entraram só se viam caudas a abanar e olhos a brilhar.
O espaço estava fantástico! De repente, ouviu-se um telefone. Quando Elisa atendeu, era uma loja de comida que ia oferecer toda a comida que os cães precisavam. Foi uma óptima notícia.
Abriram as portas e entraram mais de cem pessoas que logo adoptaram cães, eram óptimas notícias, aqueles cães iam ter futuro. A média de cães adoptados por dia subiu para 5 cães, e, assim, a Pata Doce continuou a fazer o bem.
Riso ficou com Elisa na casa dela.
Todos os dias apareciam mais cães e uma característica que se repetia, todos os dias, era que, quando os cães eram adoptados, os donos mandavam fotos para o Correio electrónico da Pata Doce para mostrar como iam os seus animais.
As pessoas da cidade, todos os dias, davam fundos para a Pata Doce.
Cinco anos mais tarde, a Pata Doce recebeu um prémio nobel de solidariedade.

Andreia Costa, 7º G
Escola E. B. 2,3 João de Meira, Guimarães


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